Celia Brandão, Psicóloga

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Modelo conceitual de Michael Fordham de funcionamento da psique

Michael Fordham é um inovador na Psicologia Analítica. Construiu seu modelo teórico através do modelo de psique de Jung e integrou conceitos da psicanálise Kleiniana no estudo da psicologia infantil,  área não explorada por Jung.

A idéia de que o jogo infantil era expressão da fantasia inconsciente da criança, foi proposta por Klein nos anos 30 e embasou a pesquisa de Fordham dos sentimentos inconscientes das crianças.

Fordham associa as duas idéias: fantasia inconsciente de Klein e experiência arquetípica de Jung.

Seu trabalho sobre transferência e contratransferência parte dos conceitos junguianos de continência, empatia e participação mística. Fordham aprofunda os estudos de Jung da transferência através do conceito Kleiniano de identificação projetiva.

Suas pesquisas com a infância dão uma base de teoria de desenvolvimento para as idéias de Jung a respeito da primeira fase da vida .

Propõe uma visão do self como centro organizador da psique e como algo sendo organizado dentro da personalidade.

James Astor refere-se à resistência de alguns junguianos que consideram a criança presente no adulto apenas uma das imagens arquetípicas e se  autorizam a trabalhar fatores periféricos da transferência se afastando  do núcleo infantil da transferência .(1995 , Astor James, pag. 4).

A influência de Fordham foi importante no estudo do que acontece quando duas pessoas se encontram para uma entrevista analítica dando continuidade às idéias de Jung sobre o encontro analítico.

 

For me tradicional Junguian style of analysis has treated mythology almost as metapsychology, looking to miths to illustrate behaviour. Fordham has reversed this tradition and used his clinical work with people to illuminate our contemporary myths.”(1995 Astor, op.cit , pag 9).

 

Astor destaca a capacidade de Fordham de pensar e refletir sobre seus sentimentos.

Michael Fordham nasceu em 1905 e morreu em  14 de abril de 1995 .

Segundo Astor a preferência de Fordham por Klein em relação à Winnicot foi porque Klein confrontou mais a destrutividade humana e não colocou muita confiança na bondade das mães, o que para Fordham foi o pressuposto de Winnicot.

Fordham foi órfão de mãe aos 15 anos e há suspeita de suicidio de seu pai que morreu atropelado por um trem em local de risco para atravessar.

Graduou-se em medicina no St Bartholomew’s Hospital medical school.

Em 1928 casou-se com Molly Swabey , jornalista. Seu filho, Max, nasceu em 1933.

Em 1940 divorciou-se em função de outro relacionamento, com Frieda Hoyle.

Molly morreu em 1942 em naufrágio de barco vindo do Caribe onde havia levado seu filho Max para viver com seu irmão.

Segundo James Astor, o interesse de Fordham de pensar e mergulhar nos sentimentos e seu interesse no self começou com sua reação à perda de sua mãe.

O estudo de Jung do self se desenvolveu após seu rompimento com Freud que segundo James Astor foi uma perda de um objeto bom para Jung. (Op. cit pag 15)

O  interesse de Fordham em estudar e pesquisar sobre o self emergiu com seu interesse em estudar sentimentos de perda. O seu estudo da infância o surpreendeu com a emergência de símbolos do self na infância.

Seu questionamento principal é ao determinismo da influência do relacionamento com os pais na estruturação da personalidade.

Conforme já havia considerado Jung a  criança precisa da segurança e suporte maternos para alcançar a qualidade transcendente do self.

Fordham vai trabalhar em cima de algumas lacunas deixadas por Jung como : as bases biológicas do arquétipo, o desenvolvimento do ego, ou a contratransferência.

São assuntos que Jung lançou mas deixou sem maiores elaborações.

A revisão que faz de Jung propõe incluir os começos do  desenvolvimento do ego na infância ao que entendemos por processo de individuação. Fordham era contra o culto da personalidade na formação do analista e insistia no empiricismo Junguiano

Estava descobrindo Jung no periodo anterior à Segunda Guerra Mundial.Seu primeiro livro”The life of Childhood” foi lançado em 1944.

Alguns ex alunos de Jung em Zurique vieram viver em Londres e junto com Fordham formaram a SAP.

Ele foi diretor de ensino durante muitos anos e foi também presidente do comitê profissional e da Sociedade em Londres, SAP.

Como os trabalhos de Jung de sua última fase são menos voltados para os aspectos práticos da análise e mais para a pesquisa de aspectos culturais e educacionais os trainees na Inglaterra sentiram necessidade de ler autores psicanalíticos.

Surgiram tensões entre os que foram formados em Zurich e os formados em psiquiatria  na Inglaterra.

Esse fato criou conflitos para a Comissão de ensino sobre os requisitos para ser um candidato  à analista.

Em 1970 Adler deixou o grupo para formar um outro. A SAP manteve-se durante trinta anos como o maior grupo de formação Junguiano internacionalmente.

Adler formou a AJA. que logo se dividiu em duas. Fordham foi criticado porque não fez a formação em Zurique e que não tinha o espírito Junguiano embora Jung o tenha convidado para reunir e editar as obras completas.

A critica que recebia era ao fato de ter acentuado a importância dos afetos infantis inconscientes presentes na análise de adultos e afirmar que os constituintes essenciais dos sentimentos transferenciais são infantis. O grupo de Zurich se negava a discutir em detalhe as interações entre analista e cliente. Fordham teve também que lutar em defesa dos que queriam fazer uso do conhecimento psicanalítico sem serem chamados de desleais.
Apesar de todos esses conflitos emtre os junguianos quanto à importância da transferênciaJung, valorizou os trabalhos de Fordham com a transferência.

Fordahm de 1950 ao fim dos 60 colaborou na edição das obras completas e de 1955 em diante editou o Journal of Analytical Psychology.

A influência dos conceitos  Kleinianos em Fordham foi  principalmente relativa à transferência que as crianças estabelecem na análise e às analogias que pôde fazer  entre o que Jung encontrou nos mitos e no que Klein encontrou nas fantasias das crianças pequenas sobre os corpos de suas mães.

Porém, Fordham não adotou o conceito de instinto dual de Klein, pensando, ao contrário que os instintos estão à serviço da adaptação e da sobrevivência e não da morte.( Astor J., 1995, p.21)

Questionou a noção de mundo interno como requisito para começar a análise. Ressaltou que alguns pacientes ainda não experimentaram seu mundo como interno para eles no começo da análise.(Astor, op. cit.pag 23)

Fordham foi apresentado a Jung por Godwin Baynes amigo de seu pai, antigo seguidor de Jung.